Aulas 1/2.
O nascimento da ciência moderna.
- A visão de ciência dos antigos
gregos – O
conhecimento estava voltado para a compreensão da totalidade do real, da
vida humana e da natureza, o ensino tinha por objetivo o domínio de si
mesmo e a reflexão sobre as virtudes.
- O período moderno, em
especial a partir do século XV, significou o fim do cosmo fechado grego e
da transcendência medieval, dando lugar a uma nova concepção de homem e de
mundo, a partir da consciência do Cosmo infinito.
- O homem se separa do Cosmo,
que passa a ser visto como objeto, conhecendo a possibilidade de
dominá-lo.
- A Revolução científica
é um movimento de ideias que ocorreu, simultaneamente na Física, na
Astronomia e na Biologia, e que vai provocar uma reviravolta no pensamento
filosófico.
- Nomes e obras importantes da
ciência:
·
Nicolau Copérnico
(Polônia, 1473-1543): Das revoluções das esferas celestes. (1543).
·
Giordano Bruno
(Itália, 1548-1600): Sobre o infinito, o universo e os mundos. (1584).
·
Galileu Galilei
(Itália, 1564-1642): Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo. (1632).
·
Blaise Pascal
(França, 1623-1662): Pensamentos. (1670).
·
Isaac Newton
(Inglaterra, 1642-1727): Princípios matemáticos da filosofia natural. (1687)
- Copérnico propõe substituir o modelo
geocêntrico de Ptolomeu/Aristóteles pelo modelo heliocêntrico, afirmando
que a Terra e os demais planetas giram em torno do sol. Ao retirar a Terra
e o homem do centro do Universo ele provoca uma verdadeira revolução no
pensamento ocidental.
- Bruno defendia a tese do Universo
infinito e em constante transformação, e a de que a Terra era apenas um
dentre inúmeros mundos existentes.
- Galileu aprimorou o telescópio e
aplicou leis matemáticas e geométricas para entender a Natureza, criando
as bases da Física moderna. “O livro da Natureza está escrito em
caracteres matemáticos.”
- Pascal revela a inquietação e a
angústia diante da pequenez humana no Universo infinito. “O silêncio
desses espaços infinitos me apavora.”
- Newton desenvolveu uma completa
formulação matemática da concepção mecanicista da Natureza, sistematizando
as leis fundamentais da Física.
Aula 3. A
ciência do século XVII e a nova visão de mundo.
- O
desenvolvimento científico do século XVII foi fundamental para a
construção da ciência moderna, pois os pressupostos ali colocados serviram
de base para tudo o que foi feito a partir daí.
- Pressupostos:
- Matematização
da natureza – Explicação de eventos naturais através das relações
matemáticas existentes, só o conhecimento matemático pode explicar as
coisas.
- Adoção
do método experimental – Não confiar
apenas nas teorias, mas fazer experimentos que as comprovem, não se faz
ciência sem experiência.
- Pensamento
mecanicista – O Universo é considerado uma grande
máquina, onde todos os seus elementos estão conectados, uso da metáfora
do relógio.
- Novos
objetivos - A ciência passa a ter como objetivo ampliar
o poder dos homens sobre a Natureza, valorização da técnica e da
tecnologia.
- A
partir do século XVII há uma mudança radical de postura intelectual,
com a adoção dos pressupostos citados, o homem passa a ter poder sobre a
Natureza, fabricando novas verdades.
- O
homem renascentista se vê diante de uma dualidade: racional e
divina, onde o mundo e a alma entram em conflito. Ocorre a libertação
humana da determinação divina, os homens saem da condição de criaturas e
tornam-se criadores da vida em seus vários aspectos.
- Distinção
quanto aos estágios do conhecimento:
- Informação
– Dado captado pelos sentidos (imagens, cores, sons, cheiros,...).
- Conhecimento
– É a informação analisada e compreendida pela mente.
- Sabedoria
– É o conhecimento submetido a crenças e valores morais e éticos.
- O
ato de conhecer não é só sensível, mas uma expressão de conteúdos da
consciência.
- Nessa
nova visão de mundo, o Universo passa a ser entendido matematicamente, com
leis determinadas pela sua própria realidade.
- O
mundo é comparado a um relógio, uma máquina que funciona de forma
mecânica e autônoma, pela qual o ser humano passa a ser a medida de
todas as coisas e senhor de seu destino.
- Para
Aristóteles, o desejo de saber é uma característica natural de todos os
seres humanos. A curiosidade é um desejo primitivo de desvendamento
das coisas. Desde os povos mais antigos, esse desejo incansável, sempre
renovado, se faz presente na História.
Aula 4. O
legado do Renascimento e da revolução científica.
- Em
todas as épocas da História, as grandes questões existenciais giram sempre
em torno dos temas: o homem, o Universo e Deus, variando o foco de
acordo com os interesses dominantes de cada época.
.
- O
Renascimento trouxe modificações no ato de conhecer, criando condições
apropriadas ao desenvolvimento de novas concepções, de uma nova visão
de mundo, com destaque para:
- A
separação entre fé e razão.
- O
antropocentrismo.
- O
saber ativo em oposição ao saber contemplativo.
.
- Surge
uma nova proposta de reflexão crítica sobre as possibilidades do
conhecimento, a partir de duas direções distintas:
- Saber
se é possível conhecer cientificamente o mundo natural.
- Saber
se as questões metafísicas podem ser conhecidas com base em modelos
científicos.
.
- O Humanismo
renascentista valoriza o pensamento humano, excluindo qualquer realidade
fora da consciência.
- Da revolução astronômica de
Copérnico, passando por Galileu, Bacon e Descartes até a física de Newton,
a ciência encontra sua expressão mais moderna na ideia de um Universo
concebido como uma máquina, o surgimento de novas ideias transforma o
mundo, as ideias mais relevantes do período foram:
- A Terra e o homem não são
mais o centro do Universo.
- Aliança entre ciência e
técnica, modificando a visão de conhecimento.
- O método experimental funda
a nova ciência, independente da Fé.
- A essência das coisas é
substituída pelas qualidades e funções.
·
Surgem
grandes questionamentos sobre o processo do conhecer: É possível conhecer? Como
conhecer? Como verificar a validade de um conhecimento? Quais os critérios para
a verdade? Qual a extensão do conhecimento? O conhecimento vem da experiência
sensível, da razão ou de ambas?
·
Surgem
como resposta a essas questões duas correntes filosóficas opostas entre si: o
Empirismo e o Racionalismo.
Aulas 5/6.
Empirismo: os sentidos fundam o conhecimento.
- O
Empirismo:
•
Doutrina
filosófica que encontra o seu auge nos séculos XVII e XVIII na Inglaterra com Francis
Bacon, John Locke e David Hume.
•
Ideia básica: A
Razão, a verdade e as ideias são adquiridas por nós através da experiência
sensível, ou seja, só adquirimos conhecimento através dos cinco sentidos
(visão, audição, olfato, paladar e tato), antes disso a mente é como uma “página
em branco”, em que são impressos os dados da sensibilidade.
•
Francis Bacon (Inglaterra,
1561-1626):
•
Nasceu de
uma família nobre na Inglaterra absolutista da rainha Elizabeth I. Fez carreira
política, chegando a ser chanceler do rei Jaime I.
•
Sua
principal máxima: “Saber é poder!”, expressa uma visão otimista do poder
de conhecer dos seres humanos, capaz de levar ao inevitável progresso; a
tradição filosófica o considera o “pai” do método experimental.
•
O
conhecimento não tem valor em si mesmo, mas representa um poderoso meio para
conquistar
o poder sobre a Natureza.
•
Objetivo de sua filosofia: Elaborar um novo método de investigação que
permitisse o conhecimento correto dos fenômenos naturais, criticando e
rejeitando a ciência e a filosofia anteriores.
•
O Método
experimental – Valorização da experiência sensível e do raciocínio Indutivo
(do particular para o geral).
•
Bacon
reflete uma visão materialista e mecanicista da realidade; ele pode ser
considerado um grande Naturalista, porque ele interpreta a realidade segundo
causas naturais.
•
Principais
obras: “Novum Organum” e “Nova Atlântida”, ambas expressam a confiança
no poder da Ciência para garantir a felicidade humana, enfatizando assim o
caráter utilitarista do conhecimento.
•
Em
Política, Bacon defendia um Estado forte, autoritário, tendo por base a ideia
de que a harmonia e o bem-estar da sociedade provêm do controle científico da
Natureza.
•
A
contribuição de Bacon para o desenvolvimento das Ciências foi enorme, pois até
os dias atuais valoriza-se a investigação científica de caráter empírico.
•
David Hume (Escócia, 1711-1776):
·
Filósofo,
historiador e ensaísta britânico nascido na Escócia que se tornou célebre por
seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico. Sendo
considerado um dos mais importantes pensadores do chamado iluminismo escocês e
da própria filosofia ocidental.
·
Principais
obras:
o Tratado da Natureza humana.
(1739)
o Ensaios morais, políticos e
literários. (1741)
o Investigação sobre o entendimento
humano. (1748)
o Diálogos sobre a religião
natural. (1779)
• Para
Hume, as nossas ideias não são apenas cópias das impressões que temos das sensações
(experiências externas), mas também das impressões das emoções que
experimentamos diante das sensações (experiências internas).
•
A origem das ideias segundo Hume:
•
As sensações
formam a percepção, a associação das percepções formam as ideias.
•
Temos o
hábito de fazer associações; para Hume a
razão é o hábito de associar ideias.
•
A
pesquisa metafísica e a atividade científica usam como base o “princípio da
causalidade”, pois o cientista faz experiências e busca as causas que expliquem
o fenômeno observado, o mesmo vale para os argumentos metafísicos.
•
Hume
questiona esse princípio: para ele todo raciocínio experimental utiliza a causalidade, mas de onde vem isso?
Qual a impressão sensível que garante isso?
•
Ele não
encontra em nenhum setor da experiência, uma impressão concreta de causalidade
que a justifique. A experiência externa só me fornece o depois, não me dá a
origem do porquê.
•
A
causalidade não existe nas coisas, mas em uma crença que se baseia no hábito de
associar ideias. Pelos sentidos não percebemos causas, mas sensações.
•
A
influência da filosofia de Hume pode ser percebida principalmente em Kant, na
filosofia analítica e na fenomenologia.
Aulas 7/8. Racionalismo: a Razão funda o
conhecimento.
- O
Racionalismo:
- Doutrina filosófica
inaugurada pelo francês René Descartes (1596-1658), Spinoza e
Leibniz são outros expoentes dessa corrente.
- Princípios do Racionalismo:
- Privilegia a razão em
detrimento da experiência do mundo sensível como via de acesso ao
conhecimento, estipula o sujeito do conhecimento como fundamento de
toda a verdade.
- A Razão é a luz natural
inata que permite o acesso à verdade, sendo a verdade uma
característica das ideias e não das coisas. Por exemplo, quando vejo um
objeto e digo: Isto é um livro de filosofia, sabemos que o livro existe e
que a verdade está na ideia, no conceito “livro de filosofia”, que é
verdadeiro por corresponder ao objeto existente.
- O racionalismo afirma que
tudo o que existe tem uma causa inteligível, mesmo que essa causa
não possa ser demonstrada empiricamente, tal como a causa da origem do
Universo.
- As ideias inatas:
- Descartes defende a
existência de “ideias inatas”, que por serem puras (livres dos sentidos)
só podem existir porque já nascemos com elas.
- Exemplos: Infinito, tempo,
espaço, Deus, relações matemáticas, ... (intuições intelectuais).
- René
Descartes (França,1596-1658):
- Filósofo, físico e
matemático francês, por vezes chamado de "o fundador da filosofia
moderna" e o "pai da matemática moderna", é considerado um
dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento
Ocidental.
- Principais obras:
- "Discurso sobre o
método" (1637);
- "Meditações
Metafísicas" (1641);
- "Princípios de
Filosofia" (1644);
- "As Paixões da
Alma" (1649);
- O caminho lógico para o
Cogito:
- A frase considerada símbolo
do Racionalismo é o cogito cartesiano: “Penso, logo existo.”(a primeira verdade é a minha
existência enquanto um ser pensante).
- Nas Meditações,
Descartes reproduz a sequência de raciocínios que o levaram aos
fundamentos lógicos do conhecimento humano. Vejamos como isso ocorre:
- Primeira
meditação: A dúvida metódica.
- Para encontrar a Verdade
nas ciências é necessário rejeitar tudo o que possa ser motivo de dúvida.
Deve ser uma dúvida radical.
- A principal fonte de
conhecimento vem dos Sentidos, pois nos fornecem dados óbvios e
evidentes.
- Os Sentidos não são
confiáveis, pois podemos nos enganar.
- Argumento dos sonhos – Difícil distinção entre a
vigília e o sono, induz a ilusões.
- O conteúdo dos sonhos sempre
reflete a representação de algo.
- Porém, mesmo duvidando dos
sentidos, como duvidar das relações matemáticas? (2 + 3 = 5, independente
de qualquer engano).
- Argumento do Deus enganador – Deus teria o poder para
me enganar, mas Deus não pode ser maligno, ele é soberanamente bom, logo
ele não me engana.
- Argumento do Gênio maligno – Um gênio maligno me engana
em tudo, tudo o que sei é mera ilusão.
- Segunda
meditação: A primeira verdade, o Cogito.
·
Para
chegar à verdade basta encontrar uma coisa que seja certa e livre de dúvidas,
um ponto fixo a partir do qual possa alcançar outras verdades.
·
Supondo
que tudo o que vejo é falso, tudo o que penso são ficções, então o que poderá
ser considerado verdadeiro?
·
Não há
dúvida de que eu sou algo, mesmo que um enganador me engane sempre,
jamais poderá fazer com que eu não seja nada, enquanto eu pensar ser alguma
coisa.
·
Se duvido
de tudo e sou sempre enganado, não tem como negar a minha existência.
·
A
proposição “Penso, logo existo”, é necessariamente verdadeira.
·
Conclusão:
·
Descartes
utiliza a dúvida radical como um método de pesquisa, os argumentos
citados, dos sonhos, do Deus enganador e do gênio maligno são criações
artificiais que servem para estender a dúvida ao extremo, chegando
finalmente na primeira verdade: Eu existo enquanto um ser pensante, eu sou algo
que pensa!
·
A partir
daí, tem início uma análise das razões para descobrir qual a natureza daquilo
que pensa, passando pela prova da existência de Deus e da existência do mundo
físico exterior à mente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário