Aula 1.
Sociologia brasileira: Modernização e desenvolvimento.
- A reflexão sociológica no Brasil sempre se
preocupou com a natureza, o sentido e os desdobramentos da modernização.
Este tema teve um papel relevante, afinal o próprio processo histórico que
deu origem ao Brasil estava impregnado por esse conceito.
- Costuma-se utilizar o ano de 1850 como um
marco divisor para a modernidade brasileira, mas o que aconteceu neste ano
para justificar esta afirmação?
- Brasil em 1850 – Monarquia parlamentarista com amplos
poderes do imperador D. Pedro II, aproximadamente 9 milhões de habitantes,
população eminentemente rural, produção agrícola, instalação das primeiras
ferrovias e principalmente a
extinção do tráfico negreiro pela Lei Eusébio de Queiroz.
- A extinção do tráfico foi um marco rumo a
modernidade, pois permitiu ao país se livrar deste verdadeiro “fardo
colonial”, símbolo do atraso. Foi o primeiro grande passo para a
modernização do Brasil.
- Modernidade – Processo de mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais
que ocorre em países da periferia do sistema capitalista, na medida em que
esses países se direcionam para padrões mais complexos de organização
social e política.
- As principais referências de modernidade desde
o início do século XX são os E.U.A. e a Europa ocidental, sua forma de
organização era o modelo ideal a ser seguido por qualquer país que se
pretenda “moderno”. Conceitos como democracia, industrialização e
urbanização passaram a ser sinônimos de modernidade.
- Existe no Brasil uma visão preconceituosa de
que o progresso ou a modernidade só teve realmente início com a imigração
européia.
- Segundo muitos sociólogos ocorreu no Brasil uma chamada “modernização conservadora”, houve um grande progresso econômico acompanhado de um atraso social, as antigas estruturas políticas e sociais do passado foram mantidas, persistindo mecanismos sociais de exclusão e políticas de dominação.
Aulas 2/3.
Os grandes sociólogos brasileiros.
·
Podemos
dizer que existe realmente uma sociologia brasileira e não apenas uma
sociologia no Brasil, pois os grandes nomes buscavam estudar o Brasil,
sua formação, suas características e suas relações com o mundo. Os nomes de
maior destaque são:
- Euclides da Cunha (RJ, 1866 – 1908):
- Autor de “os sertões” (1902), livro
que conta a história da Guerra de Canudos no sertão nordestino.
- Nesta obra, Euclides nos mostra a miséria e o
isolamento da população nordestina.
- Faz um diagnóstico do subdesenvolvimento
nacional, mostrando a existência de “dois Brasis”.
- Apesar do autor não ser um sociólogo
acadêmico, sua obra serviu de base para muitos estudos sociológicos.
- Gilberto Freyre (PE, 1900 – 1987):
- Jornalista, poeta e escritor pernambucano.
- Autor de Casa grande e senzala (1933),
Interpretação do Brasil (1947), Ordem e progresso (1957) e
outras obras.
- Faz uma profunda análise das relações sociais
entre os senhores de engenho e os escravos.
- Freyre interpreta a história através de fatos
da vida cotidiana.
- Sua obra deu origem ao mito da democracia
racial no Brasil, a ideia de que as várias raças convivem em harmonia
na sociedade brasileira.
- Sérgio Buarque de Holanda (SP, 1902 – 1982):
- Historiador, crítico literário e jornalista.
- Principais obras: Raízes do Brasil (1936),
Visão do paraíso (1959), História geral da civilização brasileira (1961).
- Defendeu a ideia da inata cordialidade
do brasileiro, a hospitalidade, a generosidade, a espontaneidade são
traços definidos do caráter brasileiro.
- Florestan Fernandes (SP, 1920 – 1995):
- Professor de sociologia exilado durante o
regime militar.
- Foi responsável pelo desenvolvimento da
“Sociologia crítica” no Brasil.
- Nesta linha de pensamento não basta mostrar
os problemas sociais, é necessário opinar, criticar, propor, sugerir.
- Principais obras: “Fundamentos empíricos da
investigação sociológica”, “ A integração do negro na sociedade de
classes.”, “ A revolução burguesa no Brasil.”
- Darci Ribeiro (MG, 1922 – 1997):
- Antropólogo, escritor e político exilado
durante o regime militar.
- Seus principais temas de estudo foram a
educação e os indígenas brasileiros.
- Questão-chave: a busca da identidade
nacional, o que é “ser brasileiro”.
- Estudo crítico da miscigenação e das relações
de poder.
- Obras: “Culturas e línguas indígenas do
Brasil”, “Os brasileiros – teoria do Brasil”, “O povo brasileiro – a
formação e o sentido do Brasil”.
- Herbert José de Souza – Betinho (MG, 1935 – 1997):
- Sociólogo e ativista dos direitos humanos.
- Criou e dirigiu o projeto “ação da cidadania
contra a fome, a miséria e pela vida”.
- Obras: O Estado e o desenvolvimento
capitalista no Brasil (1977), Como se faz análise de conjuntura (1984).
- Segundo Betinho, só a participação cidadã é
capaz de mudar o país.
- Octávio Ianni (SP, 1926 – 2004):
- Sociólogo e professor universitário.
- Buscou compreender as diferenças sociais, as
injustiças a ela associadas e os meios de superá-las.
- Especializou-se na análise do populismo, do
imperialismo e na crítica à nova ordem global.
- Principais obras: Homem e sociedade (1961), Escravidão e racismo (1978), A sociedade global (1992), Pensamento social no Brasil (2004).
Aulas 4/5.
Os três poderes da república e outros poderes.
OS TRÊS PODERES:
- A Constituição do Brasil
reconhece três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. A
existência destes poderes e a ideia de que haja um equilíbrio entre
eles é uma característica fundamental das democracias modernas.
- Os três poderes são independentes,
mas atuam em conjunto, isto para evitar a concentração de poder nas mãos de
uma única pessoa.
- Poder Executivo: Exercido pelo presidente
da república, pelos governadores de estado e pelos prefeitos, a eles cabe
governar, administrando os recursos públicos e executando obras essenciais
à população. Contam com a ajuda de equipes especializadas, os ministros,
secretários estaduais e secretários municipais.
- Poder Legislativo: Exercido em âmbito federal
pelo Congresso nacional, composto de duas casas, o Senado e a
Câmara dos deputados. Em âmbito estadual, são os deputados estaduais reunidos
na Assembleia legislativa e, no âmbito municipal são os vereadores que
elaboram as leis do município, reunidos na Câmara municipal.
- Poder Judiciário: Cabe ao poder judiciário
interpretar as leis elaboradas pelo Legislativo e promulgadas pelo Executivo,
devendo aplica-las em diferentes situações e julgar quem não as cumpre.
- Além destes, outros
poderes não oficiais se fazem presentes na sociedade, são instituições
que exercem influência significativa junto à população.
O QUARTO PODER:
- A Imprensa já foi
caracterizada como o quarto poder, uma instituição com capacidade
de mobilizar a sociedade e de denunciar abusos de poder, em uma
democracia, os jornalistas e os meios de comunicação consideram um dever
importante denunciar eventuais violações da lei e de direitos.
- A sociedade dispunha deste
“quarto poder” para criticar, rejeitar, resistir e denunciar
democraticamente, as decisões injustas ou ilegais de ocupantes dos outros
poderes.
- Porém, nos últimos quinze
anos, à medida que a globalização liberal avança, este “quarto poder” se
viu esvaziado, perdendo pouco a pouco sua função de denúncia, pois a mídia,
de modo geral virou uma mercadoria, um produto a ser consumido, e ao
atender os interesses dos anunciantes ou patrocinadores perde sua
neutralidade.
- Grande parte dos jornais,
revistas e sites de notícias fazem parte de grandes empresas e corporações
que têm ligações com governos e com as elites econômicas.
O QUINTO PODER:
- A cidadania se expressa por
meio da participação política, que é, ao mesmo tempo, um direito e
um dever do cidadão.
- A participação política não
se restringe apenas a assuntos públicos do Estado e a votar nas eleições,
é muito mais abrangente que isto. Cada cidadão deve acompanhar os
candidatos eleitos, fiscalizar, cobrar, denunciar e sugerir.
- Com o advento e a
popularização da internet, surgem novas formas de participação
política, assim surge um novo poder no cenário político e social.
- A imprensa tradicional tem
ao seu lado um eclético e emergente quinto poder, formado pelos novos
protagonistas da comunicação digital, surge um novo ator dentro da
arena da comunicação política.
- O quinto poder seria
um aglomerado difuso dos novos produtores independentes de notícias e
informações, pessoas que postam informações em blogs, tuites e sites
comunitários.
- Algumas características
deste quinto poder:
- Rapidez e alcance das
informações –
Um post pode atingir milhares de pessoas em minutos.
- Caráter militante – As pessoas usam os posts
para defender opiniões e preferências políticas.
- Ausência de objetividade e
de fundamentação – Muitos posts não aprofundam os assuntos
com análises mais coerentes e sólidas.
- Anonimato – Quem posta notícias pode
se apresentar com um pseudônimo ou com um “nome fantasia”, não se
identificando.
- Falta de fontes – Não se costuma citar
fontes viáveis das informações, para sabermos se um post é verdadeiro,
temos que checar as fontes.
- A internet pode ser um
poderoso instrumento para mobilização popular, vimos isso na famosa
primavera árabe e nos protestos brasileiros de junho de 2013.
- Primavera árabe - onda revolucionária de
manifestações e protestos que ocorreram no Oriente Médio e no Norte da
África a partir de 18 de dezembro de 2010. Houve protestos e revoluções
nos países: Tunísia, Egito, Líbia, Síria, Iraque, Iêmen e em mais 16
países. Teve como principais consequências seis governos derrubados e três
guerras civis (Síria, Iraque e Líbia). As redes sociais tiveram um papel
fundamental na mobilização popular.
- Manifestações de junho de
2013 -
foram várias manifestações populares por todo o Brasil que inicialmente
surgiram para contestar os aumentos nas tarifas de transporte público, principalmente
nas principais capitais. Calcula-se que mais de um milhão de pessoas em
mais de 400 cidades participaram do movimento. São as maiores mobilizações
no país desde as manifestações pelo impeachment do então presidente
Fernando Collor de Mello em 1992, e chegaram a contar com até 84% de simpatia
da população.
- O avanço do “quinto
poder” pode nos levar a algumas importantes questões:
- Qual o papel da
imprensa em uma democracia?
- Quais as
possibilidades de uso da internet no exercício da cidadania?