Aula 1. Filosofia medieval: introdução e
patrística.
- Durante o período medieval a filosofia sofre a influência direta do pensamento religioso, cristãos, judeus e árabes muçulmanos elaboram sistemas e doutrinas que buscam explicar as relações entre os homens e Deus, Jeová ou Alá.
A filosofia cristã
- Tem início com as epístolas de São Paulo e o evangelho de João, no século I.
- Objetivo: Conduzir a humanidade à
compreensão da verdade revelada por Cristo, buscando seu autêntico
significado.
- Divide-se em duas
fases: Patrística – Do
século I ao século VII
Escolástica
– Do século VIII ao século XIV
- Patrística – Teve por finalidade organizar
a doutrina cristã para garantir a unidade da comunidade de fiéis e defender
o Cristianismo dos adversários pagãos.
- Principais nomes: Justino, Orígenes, Gregório de Nisa e Santo Agostinho.
- Grandes momentos históricos do Cristianismo:
- 313 – Edito de Milão
– O imperador romano Constantino decreta liberdade de culto aos cristãos.
- 325 – Concílio de Nicéia
– Reunião para discutir a natureza do pai e do filho e a celebração da
páscoa.
- 381 – Concílio de
Constantinopla I – Discussão sobre a divindade do Espírito santo.
- 391 – Edito de
Tessalônica – O imperador Teodósio decreta o Cristianismo a religião
oficial do Império romano.
- Os filósofos cristãos
reconheciam nos maiores filósofos gregos os legítimos precursores do
Cristianismo.
- Que grande mudança ocorre na filosofia com o surgimento do Cristianismo?
- Com o Cristianismo a filosofia deixa de ser uma busca racional pela verdade, afinal já temos em mãos a verdade revelada, cabe à filosofia apenas entendê-la.
Aula 2. As traduções da Bíblia cristã.
- Bíblia, palavra grega que quer
dizer “os livros”, refere-se à coleção de textos religiosos de valor
sagrado para o cristianismo.
- O Antigo testamento
ou bíblia judaica começou a ser escrito por vários autores a partir do
século VI a.C., durante o cativeiro dos hebreus na Babilônia, foi escrito
em hebraico e aramaico.
- Por volta do século III a.C.
foi feita uma tradução da bíblia judaica para o grego, tarefa
encomendada a 72 sábios em Alexandria, no Egito. Esta tradução ficou
conhecida como “Septuaginta”.
- O novo testamento ou
evangelho ( que em grego significa: boas novas) começou a ser escrito no
século I da era cristã na antiga Palestina, então parte do Império romano.
A primeira versão foi escrita em latim antigo, foi a “Vetus latina”,
embora houvesse também textos em grego.
- A primeira grande organização sistemática dos textos bíblicos ocorreu com S. Jerônimo no século IV, ele leu, analisou e meditou sobre os textos anteriores e criou a tradução latina chamada “Vulgata”, aprovada pelo Sínodo de Hipona em 393. Foi considerada a versão oficial da Bíblia católica, passou por uma revisão na década de 70 e aprovada em 1979 pelo papa João Paulo II a “Nova vulgata”.
- O número de livros da Bíblia
nas várias versões:
|
HEBRAICA
|
CATÓLICA
|
PROTESTANTE
|
ORTODOXA
|
Antigo Testamento
|
37
|
45
|
39
|
51
|
Novo Testamento
|
_
|
27
|
27
|
27
|
TOTAL
|
37
|
72
|
66
|
78
|
·
O
concílio de Nicéia em 325 rejeitou os chamados evangelhos apócrifos, textos
anônimos escritos nos primeiros anos do Cristianismo, não reconhecidos como
inspirados e portanto fora da lista oficial de livros da Bíblia.
·
Os
apócrifos mais famosos são: Evangelho de Tomé, Evangelho de Maria Madalena,
Evangelho de Pedro e Evangelho de Filipe, muitos deles tem importância
histórica, pois contam como surgiu o cristianismo primitivo e fatos da infância
e juventude de Jesus.
·
Calcula-se
que existam pelo menos 94 evangelhos apócrifos, sendo 20 atos dos apóstolos e
11 apocalipses.
Aula 3. A Patrística medieval: Santo Agostinho
(Numídia, 354 – 430).
- Aurélio Agostinho, professor de retórica em Cartago, converteu-se ao cristianismo aos 32 anos, tornando-se o bispo de Hipona e um dos maiores teólogos da Igreja Católica, suas principais obras foram: Confissões (400), Sobre a Trindade (422), A cidade de Deus (426).
- Agostinho cristianizou a filosofia de Platão, usando suas teorias para melhor explicar os dogmas da fé católica, ele racionalizou a fé cristã.
- O homem não tem razão para filosofar, exceto para atingir a felicidade, que é fruto da intuição e da fé. É necessário “compreender para crer e crer para compreender”, ou seja, a razão está a serviço da fé.
- Deus é a verdade, é o ser que ilumina a razão e lhe fornece a norma e a medida de todos os juízos. Esta ideia é a base da Teoria da iluminação, que diz que sempre que alguém for ler algum texto sagrado, é preciso orar sinceramente a Deus pedindo que ele derrame sobre si a luz do entendimento.
- Questão teológica: Se Deus é o autor de tudo e também do homem, da onde vem o mal?
- Resposta: A realidade do mal contradiz a bondade perfeita de Deus, tudo o que é, é o bem, mas as coisas e as pessoas se corrompem, perdem o seu ser, se afastam do bem. O mal é o nada, é a ausência total do bem.
- Suas ideias foram por muito
tempo a doutrina fundamental da Igreja Católica, até hoje em dia alguns
setores da Igreja e algumas escolas seguem seus ensinamentos.
Aula 4. A Escolástica cristã.
- É o período em que a Igreja Romana dominava a Europa, coroava reis, organizava as cruzadas e criava as primeiras universidades.
Universidade de Bologna (Itália)
em 1088,
Universidade de Paris (França) em
1170,
Universidade de Padova (Itália)
em 1222,
Univ. de Napoli (1224), Siena
(1242) e Pisa (1243), todas na Itália.
Univ. de Oxford (1249) e
Cambridge (1284), ambas na Inglaterra.
Universidade de Coimbra
(Portugal), em 1308.
- A origem e o desenvolvimento da Escolástica está intimamente ligada à atuação dos professores universitários de filosofia e de teologia, com eles ocorre a sistematização do ensino destas disciplinas. Este processo se desenvolvia com duas formas básicas de ensino:
- Lectio – Leitura e comentário de
um texto consagrado.
- Disputatio – Debates acalorados sobre um tema específico, consistia no exame de todos os argumentos possíveis a favor e contra uma tese, eram verdadeiras disputas retóricas.
- O princípio de autoridade
era o principal critério para definir se uma tese era verdadeira ou falsa.
As principais autoridades eram:
- A Bíblia, Platão,
Aristóteles, um Papa, um santo, os grandes teólogos da Igreja.
|
|
* Cristãos: Abelardo, Santo
Anselmo, São Tomás de Aquino,
* Árabes: Avicena, Averróis,
Al-Gazali,…
* Judeus:
Maimônides, Bem-Levi, Ibn-Gebirol (ou Avicebron),…
- O problema central da Escolástica era conciliar Fé e razão, buscando a compreensão plena da verdade revelada, o que levaria os homens à salvação.
Aula 5. A Escolástica: São Tomás de Aquino
(Roccasecca, 1225-1274)
- Monge dominicano, doutor em
Teologia e professor na Universidade de Paris, teve uma vida inteiramente
dedicada à meditação e ao estudo, autor de vasta erudição, suas principais
obras foram:
- Comentários sobre as
sentenças (1253), O ente e a essência (1256), Súmula contra os gentios
(1259), Questões sobre a alma (1264) e a Summa Theológica (1273).
- Tomás via na filosofia
aristotélica um alimento intelectual superior e se esforçava para
adaptá-la à revelação bíblica.
- A cristianização da
filosofia aristotélica só veio a se tornar possível graças ao espírito
analítico, à capacidade de ordenação metódica e à habilidade dialética de
Tomás de Aquino, que ele aliava a um profundo sentimento da fé cristã.
- Deus é o puro ato de
existir, é o ser pleno, a perfeição pura, criador de tudo o que existe.
- Segundo Aristóteles, o conhecimento humano começa com os sentidos, porém os sentidos não são suficientes para conhecer plenamente Deus, logo, é necessário demonstrar racionalmente sua existência.
·
As provas da existência de Deus (as cinco vias para Deus):
- A prova do movimento: Tudo o que se move é movido por outra coisa, e este por outra, e assim por diante. Mas, é impossível continuar até o infinito, logo, deve haver um primeiro motor, causa de todo o movimento, que é Deus.
- A prova da causa: Na série de causas das coisas, uma é causa da outra, também não podemos chegar ao infinito, logo, deve haver algo que é causa de tudo: Deus.
- A prova da necessidade: Todos os seres são contingentes, ou seja, não são necessários, podem ou não existir. Se nada é necessário, como explicar a existência de tudo? Logo, deve haver um ser necessário que criou tudo: Deus.
- A prova dos graus de perfeição: As coisas e as pessoas são mais ou menos perfeitas, há graus de perfeição nos seres, deve haver um ser que contenha em si o grau máximo de perfeição: Deus.
- A prova do sentido: As coisas naturais devem ter algum sentido, alguma ordem, nada existe por acaso, por acidente, logo deve haver alguma inteligência superior responsável pela ordem do mundo: Deus.
Aula 6. A Summa Theológica de Tomás de Aquino.
- Gigantesca obra teológica, levou 8 anos para ser escrita (de 1265 à 1273). Consta de 611 questões explicadas em mais de 3.400 artigos, todos seguindo a mesma estrutura lógica. Foi considerada a maior sistematização teológico-filosófica da Idade média.
- A obra tem a seguinte estrutura lógica:
- Questão segundo o senso
comum.
- Argumentos a favor da
questão.
- Argumentos contrários.
- Solução da questão.
- Resposta às objeções.
·
Reprodução
de um artigo da 1ª parte da Summa:
- Summa Theológica – parte I –
De Deus em si mesmo.
- Questão II – Se Deus
existe.
·
Artigo I – Se a existência de Deus é evidente.
Parece que a existência de Deus é
evidente.
a) Temos alguns conhecimentos
naturais, Deus é natural.
b) Ao inteligir o nome de Deus,
se entende o que é Deus.
c) Se algo é verdadeiro, sua
existência também o é.
“Eu sou o caminho, a verdade e a
vida.” (João:14,6)
Mas, em contrário: não se pode pensar o contrário
do que é evidente, podemos pensar que Deus não exista, logo, não é evidente.
Solução: A frase “Deus existe” é
evidente, pois o predicado se identifica com o sujeito; mas, como não sabemos
exatamente o que é Deus, sua existência necessita ser demonstrada.
Resposta às objeções:
1. Deus é a felicidade do homem, e o
que naturalmente se deseja, se conhece. Mas, esta relação não é válida, pois as
pessoas tem visões diferentes do que seja a felicidade.
2. Quem ouve o nome de Deus não o
identifica como o ser real, só podemos entender o significado de seu nome no
intelecto. Se a existência de Deus fosse evidente, não existiriam ateus.
3. A existência da verdade é
evidente por si, mas não é evidente para nós, pois cada um pode ter a sua
verdade.
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