Aula 1/2.
O legado do Renascimento e da revolução científica.
- Em todas as épocas da História, as grandes questões existenciais giram sempre em torno dos temas: o homem, o Universo e Deus, variando o foco de acordo com os interesses dominantes de cada época.
- O
Renascimento trouxe modificações no ato de conhecer, criando condições
apropriadas ao desenvolvimento de novas concepções, de uma nova visão
de mundo, com destaque para:
- A
separação entre fé e razão.
- O
antropocentrismo.
- O saber ativo em oposição ao saber contemplativo.
- Surge
uma nova proposta de reflexão crítica sobre as possibilidades do
conhecimento, a partir de duas direções distintas:
- Saber
se é possível conhecer cientificamente o mundo natural.
- Saber se as questões metafísicas podem ser conhecidas com base em modelos científicos..
- O Humanismo renascentista valoriza o pensamento humano, excluindo qualquer realidade fora da consciência.
- Da revolução astronômica de
Copérnico, passando por Galileu, Bacon e Descartes até a física de Newton,
a ciência encontra sua expressão mais moderna na ideia de um Universo
concebido como uma máquina, o surgimento de novas ideias transforma o
mundo, as ideias mais relevantes do período foram:
- A Terra e o homem não são
mais o centro do Universo.
- Aliança entre ciência e
técnica, modificando a visão de conhecimento.
- O método experimental funda
a nova ciência, independente da Fé.
- A essência das coisas é substituída pelas qualidades e funções.
·
Surgem
grandes questionamentos sobre o processo do conhecer: É possível conhecer? Como
conhecer? Como verificar a validade de um conhecimento? Quais os critérios para
a verdade? Qual a extensão do conhecimento? O conhecimento vem da experiência
sensível, da razão ou de ambas?
·
Surgem
como resposta a essas questões duas correntes filosóficas opostas entre si: o
Empirismo e o Racionalismo.
Aulas 3/4.
Empirismo: os sentidos fundam o conhecimento.
- O Empirismo:
•
Doutrina
filosófica que encontra o seu auge nos séculos XVII e XVIII na Inglaterra com Francis
Bacon, John Locke e David Hume.
•
Ideia básica: A
Razão, a verdade e as ideias são adquiridas por nós através da experiência
sensível, ou seja, só adquirimos conhecimento através dos cinco sentidos
(visão, audição, olfato, paladar e tato), antes disso a mente é como uma “página
em branco”, em que são impressos os dados da sensibilidade.
•
Francis Bacon (Inglaterra,
1561-1626):
•
Nasceu de
uma família nobre na Inglaterra absolutista da rainha Elizabeth I. Fez carreira
política, chegando a ser chanceler do rei Jaime I.
•
Sua
principal máxima: “Saber é poder!”, expressa uma visão otimista do poder
de conhecer dos seres humanos, capaz de levar ao inevitável progresso; a
tradição filosófica o considera o “pai” do método experimental.
•
O
conhecimento não tem valor em si mesmo, mas representa um poderoso meio para
conquistar
o poder sobre a Natureza.
•
Objetivo de sua filosofia: Elaborar um novo método de investigação que
permitisse o conhecimento correto dos fenômenos naturais, criticando e
rejeitando a ciência e a filosofia anteriores.
•
O Método
experimental – Valorização da experiência sensível e do raciocínio Indutivo
(do particular para o geral).
•
Bacon
reflete uma visão materialista e mecanicista da realidade; ele pode ser
considerado um grande Naturalista, porque ele interpreta a realidade segundo
causas naturais.
•
Principais
obras: “Novum Organum” e “Nova Atlântida”, ambas expressam a confiança
no poder da Ciência para garantir a felicidade humana, enfatizando assim o
caráter utilitarista do conhecimento.
•
Em
Política, Bacon defendia um Estado forte, autoritário, tendo por base a ideia
de que a harmonia e o bem-estar da sociedade provêm do controle científico da
Natureza.
•
A
contribuição de Bacon para o desenvolvimento das Ciências foi enorme, pois até
os dias atuais valoriza-se a investigação científica de caráter empírico.
•
David Hume (Escócia, 1711-1776):
·
Filósofo,
historiador e ensaísta britânico nascido na Escócia que se tornou célebre por
seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico. Sendo
considerado um dos mais importantes pensadores do chamado iluminismo escocês e
da própria filosofia ocidental.
·
Principais
obras:
o Tratado da Natureza humana.
(1739)
o Ensaios morais, políticos e
literários. (1741)
o Investigação sobre o entendimento
humano. (1748)
o Diálogos sobre a religião
natural. (1779)
• Para
Hume, as nossas ideias não são apenas cópias das impressões que temos das sensações
(experiências externas), mas também das impressões das emoções que
experimentamos diante das sensações (experiências internas).
•
A origem das ideias segundo Hume:
•
As sensações
formam a percepção, a associação das percepções formam as ideias.
•
Temos o
hábito de fazer associações; para Hume a
razão é o hábito de associar ideias.
•
A
pesquisa metafísica e a atividade científica usam como base o “princípio da
causalidade”, pois o cientista faz experiências e busca as causas que expliquem
o fenômeno observado, o mesmo vale para os argumentos metafísicos.
•
Hume
questiona esse princípio: para ele todo raciocínio experimental utiliza a causalidade, mas de onde vem isso?
Qual a impressão sensível que garante isso?
•
Ele não
encontra em nenhum setor da experiência, uma impressão concreta de causalidade
que a justifique. A experiência externa só me fornece o depois, não me dá a
origem do por que.
•
A
causalidade não existe nas coisas, mas em uma crença que se baseia no hábito de
associar ideias. Pelos sentidos não percebemos causas, mas sensações.
•
A
influência da filosofia de Hume pode ser percebida principalmente em Kant, na
filosofia analítica e na fenomenologia.
Aulas 5/6. Racionalismo: a Razão funda o
conhecimento.
- O Racionalismo:
- Doutrina filosófica inaugurada pelo francês René Descartes (1596-1658), Spinoza e Leibniz são outros expoentes dessa corrente.
- Princípios do Racionalismo:
- Privilegia a razão em detrimento da experiência do mundo sensível como via de acesso ao conhecimento, estipula o sujeito do conhecimento como fundamento de toda a verdade.
- A Razão é a luz natural inata que permite o acesso à verdade, sendo a verdade uma característica das ideias e não das coisas. Por exemplo, quando vejo um objeto e digo: Isto é um livro de filosofia, sabemos que o livro existe e que a verdade está na ideia, no conceito “livro de filosofia”, que é verdadeiro por corresponder ao objeto existente.
- O racionalismo afirma que tudo o que existe tem uma causa inteligível, mesmo que essa causa não possa ser demonstrada empiricamente, tal como a causa da origem do Universo.
- As ideias inatas:
- Descartes defende a
existência de “ideias inatas”, que por serem puras (livres dos sentidos)
só podem existir porque já nascemos com elas.
- Exemplos: Infinito, tempo, espaço, Deus, relações matemáticas, ... (intuições intelectuais).
- René Descartes (França,1596-1658):
- Filósofo, físico e matemático francês, por vezes chamado de "o fundador da filosofia moderna" e o "pai da matemática moderna", é considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento Ocidental.
- Principais obras:
- "Discurso sobre o
método" (1637);
- "Meditações
Metafísicas" (1641);
- "Princípios de
Filosofia" (1644);
- "As Paixões da Alma" (1649).
- O caminho lógico para o
Cogito:
- A frase considerada símbolo do Racionalismo é o cogito cartesiano: “Penso, logo existo.”(a primeira verdade é a minha existência enquanto um ser pensante).
- Nas Meditações, Descartes reproduz a sequência de raciocínios que o levaram aos fundamentos lógicos do conhecimento humano. Vejamos como isso ocorre:
- Primeira
meditação: A dúvida metódica.
- Para encontrar a Verdade
nas ciências é necessário rejeitar tudo o que possa ser motivo de dúvida.
Deve ser uma dúvida radical.
- A principal fonte de
conhecimento vem dos Sentidos, pois nos fornecem dados óbvios e
evidentes.
- Os Sentidos não são
confiáveis, pois podemos nos enganar.
- Argumento dos sonhos – Difícil distinção entre a
vigília e o sono, induz a ilusões.
- O conteúdo dos sonhos sempre
reflete a representação de algo.
- Porém, mesmo duvidando dos
sentidos, como duvidar das relações matemáticas? (2 + 3 = 5, independente
de qualquer engano).
- Argumento do Deus enganador – Deus teria o poder para
me enganar, mas Deus não pode ser maligno, ele é soberanamente bom, logo
ele não me engana.
- Argumento do Gênio maligno – Um gênio maligno me engana em tudo, tudo o que sei é mera ilusão.
- Segunda
meditação: A primeira verdade, o Cogito.
·
Para
chegar à verdade basta encontrar uma coisa que seja certa e livre de dúvidas,
um ponto fixo a partir do qual possa alcançar outras verdades.
·
Supondo
que tudo o que vejo é falso, tudo o que penso são ficções, então o que poderá
ser considerado verdadeiro?
·
Não há
dúvida de que eu sou algo, mesmo que um enganador me engane sempre,
jamais poderá fazer com que eu não seja nada, enquanto eu pensar ser alguma
coisa.
·
Se duvido
de tudo e sou sempre enganado, não tem como negar a minha existência.
·
A
proposição “Penso, logo existo”, é necessariamente verdadeira.
·
Conclusão:
·
Descartes
utiliza a dúvida radical como um método de pesquisa, os argumentos
citados, dos sonhos, do Deus enganador e do gênio maligno são criações artificiais
que servem para estender a dúvida ao extremo, chegando finalmente na primeira
verdade: Eu existo enquanto um ser pensante, eu sou algo que pensa!
·
A partir
daí, tem início uma análise das razões para descobrir qual a natureza daquilo
que pensa, passando pela prova da existência de Deus e da existência do mundo
físico exterior à mente.
Aula 7. O Barroco e a Filosofia.
- Definição – Estilo artístico surgido na Itália entre o final do século XVI e o século XVIII, deu continuidade ao Renascimento introduzindo novos significados, expressando as profundas mudanças socioculturais da época.
- Panorama histórico – Auge das monarquias absolutistas, conquista europeia da América, Reforma protestante e contrarreforma, guerra dos 30 anos, avanços da ciência.
- Características – Formas cheias de contrastes, irregulares, com muito brilho e pompa, cenários contraditórios com o choque de opostos (vida e morte, prazer e dor,..).
- Grandes nomes do Barroco –
- Pintura: Bruegel, Rembrandt,
Caravaggio, Velásquez,..
- Literatura: Shakespeare, Camões,
Cervantes,...
- Teatro: Moliére, Racine,...
- Música: Hendel, Bach, Vivaldi,...
- No Brasil: Aleijadinho, Mestre Ataíde,...
- Lemas do Barroco -
- CARPE DIEM (Aproveita o dia de hoje!)
- MEMENTO MORI (Lembra-te que morrerás um dia!).
- O período Barroco trouxe uma cultura que enfatizava o contraste, o dramático, o exagero, criando uma atmosfera grandiosa e sedutora. Foi uma tentativa de salvar uma cultura em ruínas, acalmando as mentes e controlando as massas.
- O Barroco significou uma releitura da vida, do mundo e dos homens, numa comunhão entre a espiritualidade medieval com o Racionalismo e o Antropocentrismo renascentista.
- A Filosofia da época também é conflituosa e contraditória, a principal oposição surge entre o Idealismo e o Materialismo.
- Alguns filósofos do período – Galileu, T. Hobbes, B. Pascal, Voltaire, Pe. Antônio Vieira, Isaac Newton, R. Descartes, W. Leibniz e B. Spinoza.
- O Idealismo – Coloca a subjetividade como fundamento do conhecimento, a matéria só existe quando é concebida pelo pensamento, a realidade é uma construção mental.
- O Materialismo – Afirma a objetividade, colocando a matéria no papel central do conhecimento, expressa uma visão determinista do universo.
- Problemas teóricos –
- Idealismo – Não se baseia na
matéria, está longe da experiência sensível, foca na imaginação, porém
sem vínculo com a realidade física.
- Materialismo – Compreendia a natureza de forma fixa, estática, eterna, não admitia voos da imaginação.
O movimento Barroco refletia a
sensação de libertação da rigidez medieval paralela à insegurança provocada
pela perda de um mundo de certezas. O mundo moderno havia destruído o mundo
medieval e ainda estava construindo suas novas bases, as pessoas perderam suas
referências fixas e não tinham certeza sobre o rumo que as coisas iriam tomar.
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